
Íntimo é aquilo que está lá dentro, no âmago. Qual o seu grau de intimidade com revistas? O que ela incita o que ela desata? Imaginemos que você toma às mãos este estranho objeto do desejo e o coloca a dois palmos de seus olhos. Você o desfolha e abre na página que lhe apetece. Você a segura com firmeza, perpassa cada linha, cada letra, cada imagem. Depois, firma com o polegar e o indicador da mão direita( no caso dos destros) o alto desta página e, ato contínuo, passa a seu verso. E assim sucessivamente da capa à contracapa. Trata-se de um ato de posse(seu) e de doce submissão(dela, a revista).
Digamos que você, num arroubo de ódio, rasgasse páginas(para acender a chama do fundo do forno, inalcançável aos malditos e curtos palitos de fósforo) ou as reunissem todas num feixe que massacrasse o mosquito tonitruante e sanguinário que o perseguia. Além destas louváveis funções, revistas nos fazem companhia por uma série de outras razões...
Revistas são pioneiras e permanentes. Elas estão na vanguarda das idéias (seus editores têm mais tempo para refletir sobre elas e discuti-las). Sua permanência advém na durabilidade; talvez menos que a de um bom livro, certamente mais que a de um jornal. Elas têm alta rotatividade: cada revista é lida, em média, por quatro leitores. Cada qual com seu gosto e aptidão. Apesar de ter seus conteúdos unificados por uma lombada colada ou grampeada, delas podem ser extraídas partes que permitam transplante de sugestões culinárias e moda, decoração e viagens, política e comportamento, ou “ vastas emoções e pensamentos imperfeitos” para nos fazer refletir e sonhar.
Sonhos são fundamentais para que os que se dedicam à leitura de revistas! Mas vale lembrar que elas também são carnais, físicas flexíveis como ginastas romenas. Portanto, podem ser dobradas( suportam, altivas, a convivência com os estranhos objetos abrigados em bolsas femininas), ou ainda recortadas e emolduradas( o folder de playboy foi inventado para isso).
Revistas possuem- ainda no campo das intimidades – fascinantes possibilidades gráficas, permitindo amostras, folhetos, aromas, encartes com sons, pop-ups que explodem ao olhar. Elas são verdadeiramente interativas, muito mais que o mundo virtual, que só alcança, dos sentidos, o nosso olhar. Revista é bom de cheirar (o papel ou os aromas que nela são encartados) e boa de sentir com as pontas dos dedos, com a palma das mãos. E, como La Donna é móbile, revista também o é; aceitando freqüentar de banheiros a cabines de metrôs ou banco de jardins – todo passeio romântico - ,desde que nós a convidemos a levá-la, de braços dados.
Revistas têm seletividade. Você sabe com quem está falando. Você sabe quem está comprando aquele produto: o seu público por faixa etária, segmentação social ou econômica, cultural, área regional. Enfim, com interesses comuns à sua mensagem. A leitura é um ato de vontade, que para se informar, se aculturar, se divertir ter prazer. Neste momento, a mensagem jornalística ou publicitária é percebida de uma forma muito mais envolvente. Veja durante certo período, lançou campanha publicitária com o mote: “- O que você vai conversar amanhã se não tiver lido Veja?”
Revistas são uma opção consciente do leitor. Ele coloca a mão no bolso, pede ao jornaleiro, paga, antes de tê-las nas mãos. É como no jingle dos anos 50, da Revista do Rádio...” que toda semana eu espero/ revista do Rádio: - Êi, jornaleiro! / É esta que eu quero.” O querer, o possuir aquele objeto tridimensional cria uma relação de fidelidade (“infinita, enquanto dure”)com quem lê. E sendo uma via de mão dupla com o leitor, entre o anunciante e o leitor e entre os próprios leitores cria um universo de possibilidades. Entre os que surgiram como novidade editorial nos últimos anos, vale registrar a regionalização ( encartes por região geográfica) e a personalização( mensagens ou anúncios individualizados com o nome do assinante, dirigidos a segmentos pré- selecionados em mailing).
Revistas abrem um campo ilimitado de opções para a família, os amigos, ao ambiente de trabalho. Você pode recorrer a elas, mesmo que no limite para conseguir um colo, um aconchego, uma massagem no ego, dada a variedade de temas que abordam. É esta multiplicidade de interesses que têm levado a crescente segmentação no mercado de revistas, com o multiplicar de títulos.
Portanto, revista é um objeto útil, ainda que não sejam necessariamente nocivos os outros meios de comunicação( a eles poderíamos aplicar muitos dos itens até aqui arrolados). Mas o que atrai e fascina em revistas – e ademais, em qualquer leitura da palavra impressa- é a credibilidade( da qual andamos tão faltos e sequiosos). Como no jogo do bicho, ”vale o que está escrito”, aquilo que não pode ser mais alterado, que é uma prova de permanência, como uma escritura, um contrato. Na verdade, editores e leitores da palavra impressa assinam um contrato de mútua credibilidade.
Agora que falamos delas, as revistas, vamos de nós, leitores, estes estranhos seres que –sabe –se Deus lá por quê? – resolvem a intervalos regulares, abrir e desfolhar um amontoado de páginas de papel... Uma revista não existe sem o seu leitor. Por isso, o leitor deve vir sempre em primeiro lugar. Você tem que acreditar nele. Antes de definir uma idéia, é importante definir o leitor que você busca. E sabe, com humildade, que tão importante quanto escrever é perceber o que ele vai ler e capturar daquilo que você escreveu.
Seu texto só será genial se for lido. Sua reportagem só será significante se ela ecoar na lama do leitor. Isto parece muito simples. Mas não é. Profissionais da comunicação têm a tendência a perceber o mundo circundante apenas com seus próprios valores. Temos uma natural arrogância ( e isto vale não apenas para quem trabalha nos trópicos). Quem não acredita no seu leitor,no seu espectador ,no seu cliente, no seu consumidor não deve produzir nenhum espetáculo, não deve editar nenhuma revista. Nem Veja .Nem Sétimo Céu.
Olá, eu gostei bastante do texto. Eu acho que as revistas devem possuir algo que as diferencie do jornal porque se for igual ninguém irá comprar.
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